Boletim GSO: PANORAMA ESTATÍSTICO DE OCORRÊNCIAS AERONÁUTICAS

Boletim GSO: PANORAMA ESTATÍSTICO DE OCORRÊNCIAS AERONÁUTICAS

Recentemente, o setor aeronáutico registrou uma série de acidentes no Brasil e no mundo, gerando preocupação e amplos debates sobre a segurança de voo. O propósito deste Boletim vai além de simplesmente apresentar estatísticas; buscamos esclarecer onde esses números mais impactam e algumas das principais exigências regulatórias para o Táxi Aéreo, regido pelo Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Nº 135 (RBAC 135).

No Brasil, grande parte desses acidentes ocorreu na Aviação Geral, regida pelo RBAC 91 – conforme veremos no decorrer deste Boletim – um segmento que possui maior flexibilidade operacional, mas menos exigências obrigatórias em comparação ao Táxi Aéreo, regido pelo RBAC 135. Este último, por sua vez, opera sob normas mais exigentes e é submetido a uma fiscalização mais rigorosa por parte dos Órgãos Reguladores, garantindo um controle operacional mais estruturado, em outras palavras, de forma mais simples, podemos dizer que a régua avaliativa do Táxi Aéreo é mais alta em comparação à Aviação Geral.

É importante analisar como a infraestrutura organizacional, os treinamentos obrigatórios, os processos e, principalmente, a cultura de segurança de voo incutida nos operadores, pilotos e proprietários impactam diretamente a segurança dos voos.

Muitas vezes, as notícias divulgam os acidentes de forma generalizada, criando a percepção de que toda a aviação está insegura, quando, na verdade, é fundamental diferenciar os contextos, os cenários e os regulamentos que regem cada tipo de operação.

EXISTE DIFERENÇA ENTRE TÁXI AÉREO E AVIAÇÃO GERAL?

A Aviação Geral é um termo amplo que abrange todas as operações aéreas que não estão vinculadas ao Transporte Aéreo Regular de Passageiros (regido pelo RBAC 121), como voos privados, de treinamento, de negócios, entre outros. Sua principal característica é a flexibilidade, permitindo que proprietários e pilotos realizem voos conforme suas necessidades, sempre dentro das regulamentações de segurança estabelecidas. Além disso, grandes empresas também utilizam aeronaves próprias para o transporte de seus executivos e diretores, otimizando a mobilidade e atendendo a demandas específicas.

Já o Táxi Aéreo é voltado exclusivamente para o transporte remunerado de passageiros e cargas. Nesse tipo de operação, o voo é contratado de forma personalizada, com um contrato de serviço entre as partes, e os destinos e horários são definidos conforme a demanda do cliente. As empresas de Táxi Aéreo devem ser devidamente certificadas pela ANAC para realizar o transporte de passageiros, garantindo que atendam aos rigorosos requisitos de segurança e operação.

Os dois tipos de operações, Aviação Geral ou Aviação de Táxi Aéreo podem oferecer voos seguros e isso não depende apenas do tipo de aeronave utilizada, mas, principalmente, da cultura de segurança estabelecida pelo operador, seja em operações particulares ou fretadas.

Em outras palavras, alguém pode ter um monomotor e operá-lo com extremo profissionalismo e segurança, assim como é possível voar um jato moderno de forma insegura, se os padrões de segurança não forem devidamente seguidos. A segurança é uma prioridade compartilhada por todos: proprietários de aeronaves privadas naturalmente querem proteger suas famílias e passageiros, enquanto empresas de Táxi Aéreo mantêm a segurança como pilar essencial para a continuidade de seus negócios e a confiança de seus clientes.

O que significa voar sob o RBAC 91 (Aviação Geral)?

É a regulamentação da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) que estabelece as regras gerais de operação para a Aviação Geral no Brasil. Esse RBAC abrange voos particulares e não comerciais, incluindo aeronaves de proprietários privados, empresas que utilizam aviões para transporte próprio (voo corporativo) e operações não regulares que não se enquadram em categorias mais restritivas, como Táxi Aéreo ou Aviação Comercial Regular.

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO RBAC 91:

A seguir, vamos focar nas operações em que há uma relação direta exclusivamente entre os pilotos e o proprietário da aeronave, voltadas ao transporte privado, muitas vezes incluindo sua família, sem o suporte de uma estrutura empresarial.

  • Menos requisitos operacionais e regulatórios em comparação ao RBAC 135 (Táxi Aéreo) e RBAC 121 (Aviação Comercial Regular).
  • Flexibilidade para os proprietários, permitindo que voem conforme sua necessidade, sem exigência de uma estrutura organizacional robusta.
  • Menos fiscalização e auditorias periódicas, pois não há a mesma obrigatoriedade de treinamentos recorrentes, inspeções frequentes, certificações adicionais como há no RBAC 135 e RBAC 121 e, a ausência de um Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional (SGSO).
  • Em algumas relações de trabalho, o piloto assume múltiplas funções, muitas vezes sendo responsável pelo planejamento, manutenção, abastecimento e tomada de decisões sem um suporte operacional especializado.
  • Toda a gestão operacional e a responsabilidade pela manutenção da segurança recaem integralmente sobre o proprietário da aeronave e sua tripulação. Isso inclui planejamento de voo, autoatualização de normas regulatórias, inspeções de manutenção e tomadas de decisão, sem o suporte de departamentos formados por especialistas do setor.
  • Muitas operações ocorrem em aeródromos com infraestrutura limitada, alguns sem controle de tráfego aéreo (ATC), em pistas de terra ou grama, e até mesmo em locais não cadastrados, exigindo do piloto um planejamento ainda mais detalhado e um nível elevado de consciência situacional para mitigar os riscos associados a operações em ambientes menos assistidos.

NOTA: Algumas empresas grandes possuem frota própria de aeronaves e voam sob o RBAC 91, mas possuem uma estrutura robusta de controle operacional, de manutenção e de segurança de voo, inclusive certificadas IS-BAO. Isso significa que, apesar de estarem enquadradas nesse Regulamento, mantêm um alto padrão de segurança, com processos bem definidos, auditorias internas e uma forte cultura voltada para a mitigação de riscos, portanto, o fato de operarem sob o RBAC 91 não as coloca em um nível inferior ao RBAC 135 em termos de segurança, pois adotam práticas rigorosas e comprometidas com a excelência operacional.

VOO DE ACORDO COM O RBAC 135 (TÁXI AÉREO):

O que significa voar sob o RBAC 135?

É a regulamentação da ANAC para operações de Transporte Aéreo Público com aviões com configuração máxima certificada de assentos para passageiros de até 19 assentos e capacidade máxima de carga paga de até 3.400 kg (7.500 lb), ou helicópteros. As operações envolvem aeronaves que constam das especificações operativas de pessoas jurídicas brasileiras certificadas segundo o RBAC 119.

Devido ao caráter comercial e ao compromisso com a segurança, o RBAC 135 exige uma estrutura operacional sólida, garantindo que as operações sejam realizadas dentro dos mais altos padrões da aviação e, guardadas as devidas proporções, nos quesitos regulamentações, normas, estrutura e fiscalização é similar ao RBAC 121(Aviação Comercial Regular).

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO RBAC 135:

  1. Treinamento e qualificação rigorosa dos pilotos:

Pilotos devem atender a requisitos mais rigorosos de experiência e certificação, sendo que, em muitos casos, o seguro aeronáutico exige um número elevado de horas de voo como critério para cobertura.

No RBAC 135, a segurança é promovida, acima de tudo, pelo preparo constante dos pilotos; além de uma criteriosa avaliação antes da admissão, eles são submetidos a treinamentos iniciais e periódicos, incluindo reciclagens anuais (grade obrigatória).

Os treinamentos recorrentes incluem simulações de emergência, CRM (Corporate Resource Management), artigos perigosos, AVSEC (Security), EFB (Eletronic Flight Bag), sobrevivência no mar e na selva, PBN (Performance Based Navigation), RVSM (Reduced Vertical Separation Minimum), SGSO (Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional), Tráfego Aéreo Internacional, MEL (Minimum Equipment List), CWO (Cold Weather Operation), SOP (Standard Operating Procedure), entre outros que o operador aéreo poderá requerer de sua tripulação.

NOTA 1: Em uma publicação futura poderemos explanar melhor sobre a utilização prática de cada um dos cursos requeridos para operação de Táxi Aéreo.

NOTA 2: As aeronaves operadas pela UPSTAR AVIATION operam sempre com dois pilotos.

  1. Infraestrutura, Supervisão operacional e suporte ao piloto:

Na UPSTAR, o piloto nunca está sozinho. Ele conta com uma equipe completa de suporte, que inclui departamentos de Safety, Manutenção, Operações, Comercial e colaboradores de diversas áreas administrativas e operacionais. Cada setor desempenha um papel crucial para que o piloto possa se concentrar exclusivamente no voo, sem a necessidade de lidar com atividades administrativas ou gerenciais, tais como planejamento de voo, meteorologia, alternativas de rota e decisões estratégicas.

Dentro da possibilidade logística e da necessidade do cliente, dá-se preferência para que os aeroportos de destinos e alternativos sejam aqueles com melhor infraestrutura, que possuem torres de controle, auxílios à navegação, serviços meteorológicos e suporte operacional.

NOTA: O Piloto em Comando é a máxima autoridade a bordo, sendo o responsável final pela operação segura do voo e pela tomada de decisões, garantindo a conformidade com os regulamentos e a segurança de todos os ocupantes.

  1. Fiscalizações e auditorias frequentes:

As operações são constantemente inspecionadas pela ANAC, além de auditorias internacionais, como IS-BAO (International Standard for Business Aircraft Operations).

As empresas devem cumprir requisitos de manuais operacionais, registros detalhados com evidências comprovadas e certificações de segurança. Esses processos garantem o cumprimento de normas atualizadas e a identificação precoce de possíveis falhas.

Além disso, o RBAC 120, que trata do Programa de Prevenção ao Risco Associado ao Uso de Substâncias Psicoativas na Aviação Civil (PPSP), também faz parte do controle operacional nas empresas de Táxi Aéreo. Esse regulamento exige que as empresas “135” implementem políticas de prevenção, detecção e acompanhamento relacionadas ao uso de substâncias psicoativas por seus operadores ARSO (pessoas que desempenham atividades de alto risco), reforçando ainda mais o compromisso com a segurança de voo e a aptidão dos profissionais que operam sob o RBAC 135.

  1. Manutenção rigorosa das aeronaves:

Aeronaves operadas sob o RBAC 135 seguem um plano de manutenção criterioso, com revisões periódicas e controle detalhado de todas Ordens de Serviços a serem executadas. As peças e componentes possuem rastreabilidade sendo monitorados e inspecionados de forma contínua pelo Departamento de Manutenção.

A Manutenção é realizada em Oficinas Homologadas pela ANAC, por profissionais certificados e essas Bases são frequentemente auditadas pela Autoridade Reguladora.

O operador orienta ao proprietário seguir rigorosamente o plano de manutenção, o que é acatado, uma vez que é parte integrante dos requisitos para operar Táxi Aéreo.

  1. Compromisso com a segurança operacional:

É obrigatória a implementação do SGSO (Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional), que identifica e mitiga riscos antes que eles resultem em acidentes ou incidentes.

A cultura de segurança é reforçada por treinamentos e reuniões frequentes para análise de ocorrências e melhoria contínua buscando sempre alcançar o nível aceitável de desempenho de segurança operacional (NADSO).

O reporte de situações perigosas é motivado pela alta direção, sem o propósito de indicar responsabilidades ou culpa, mas sim para analisar erros e encontrar ferramentas solucionáveis para mitigar o risco (Termo conhecido como “Cultura Justa”).

Relatórios de Prevenção, Flight Risk Assessment Tools (FRAT), Controle de Fadiga, Análises de risco de pistas, Grupos de Apoio à Segurança Operacional, Gerenciamento de Riscos quanto à colisão com ave, atos de interferência, Análise de Dados de Voo, são alguns dos programas de promoção à segurança operacional utilizadas no Táxi Aéreo. 

ESTATÍSTICAS DE ACIDENTES AERONÁUTICOS:

A estatística de acidentes aeronáuticos pode ser verificada nas fontes oficiais brasileiras e internacionais, como o CENIPA, ICAO (International Civil Aviation Organization), Flight Foudation, Plano Nacional de Segurança Operacional da Aviação Civil (PNSO), da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC) e do Comando da Aeronáutica (COMAER).

De acordo com os dados disponíveis no CENIPA, o Brasil registrou um total de 1.559 acidentes, 686 incidentes graves e 5.743 incidentes nos últimos dez anos (dados atualizados até 12 de fevereiro de 2025), destes, 361 foram acidentes fatais com 777 fatalidades (Painel SIPAER).

No entanto, neste Boletim, estreitaremos a análise, focando especificamente nas operações RBAC 91 e RBAC 135, onde é possível observar uma redução significativa no número de acidentes. Esse enfoque permite uma compreensão mais precisa sobre qual segmento requer maior atenção em relação à segurança operacional e às medidas preventivas para a mitigação de riscos.

Para este estudo foram suprimidos os números referentes aos seguintes tipos de aeronaves: Anfíbio, balão, dirigível, girocóptero, hidroavião, planador, trike, ultraleve.

A ANAC disponibiliza anualmente os dados de horas voadas por tipo de operação e, para este estudo, foi adotado o mesmo critério utilizado na análise das ocorrências aeronáuticas, considerando o período de 2015 a 2024.

A métrica padrão de 100.000 horas de voo será utilizada para verificar as taxas de ocorrências aeronáuticas, facilitando a compreensão dos dados em diferentes contextos aeronáuticos, além disso, permite uma comparação entre distintos tipos de operações, assegurando uma análise clara, uniforme e representativa dos riscos e tendências de segurança operacional.

Esse parâmetro é utilizado por Órgãos de Aviação como ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil – Brasil), FAA (Federal Aviation Administration – Estados Unidos), NTSB (National Transportation Safety Board – Estados Unidos), BEA (Bureau d’Enquêtes et d’Analyses pour la Sécurité de l’Aviation Civile – França), EASA (European Union Aviation Safety Agency – Europa), entre outros.

Com base em 100.000 horas de voo, calculou-se a média das horas voadas durante esse período, estabelecendo um parâmetro para a taxa de acidentes em cada categoria de transporte: A média dos últimos dez anos da Aviação Geral (Categoria TPP – Transporte Aéreo Privado, RBAC 91) foi de 642.000 horas, enquanto a do Táxi Aéreo (Categoria TPX – Transporte Aéreo de Passageiros Táxi Aéreo, RBAC 135) ficou em 249.000 horas. Embora a Aviação Geral apresente um volume anual de horas voadas significativamente maior do que o Táxi Aéreo, isso não inviabiliza a utilização de uma métrica única para ambos os segmentos, ou seja, o número de acidentes a cada 100.000 horas de voo.

A análise da tabela 1 refletida nos gráficos 4, 5 e 6, retrata que nos últimos 10 anos, em 8 anos a taxa de ocorrências da Aviação Geral (TPP – RBAC 91) foi superior à do Táxi Aéreo (TPX – RBAC 135), em 2021, ambas as categorias apresentaram a mesma taxa, e apenas em 2024 a taxa de ocorrências do Táxi Aéreo superou a da Aviação Geral.

Essa variação para cima observada em 2024 não significa, necessariamente, um aumento da insegurança no Táxi Aéreo, pois o crescimento registrado foi pontual, resultado de um aumento específico no número de incidentes graves e incidentes ocorridos ao longo do ano.

Na Aviação Geral, a média dos últimos dez anos registrou 166 ocorrências em um total médio de 642.000 horas voadas, enquanto no Táxi Aéreo, a média foi de 50 ocorrências ao longo de 249.000 horas voadas no mesmo período. Esses números resultam em uma taxa de 26 eventos a cada 100.000 horas voadas para a Aviação Geral e 20 eventos a cada 100.000 horas voadas para o Táxi Aéreo, conforme apresentado na Tabela 1 e gráficos 4, 5 e 6.

Importante esclarecer:

Acidente Aeronáutico: Toda ocorrência aeronáutica relacionada à operação de uma aeronave tripulada, havida entre o momento em que uma pessoa nela embarca com a intenção de realizar um voo até o momento em que todas as pessoas tenham dela desembarcado e, durante os quais, pelo menos uma das situações abaixo ocorra:

  1. Uma pessoa sofra lesão grave ou venha a falecer como resultado de:
  2. Estar na aeronave;
  3. Ter contato direto com qualquer parte da aeronave, incluindo aquelas que dela tenham se desprendido; ou;
  4. Ser submetida à exposição direta do sopro de hélice, de rotor ou de escapamento de jato, ou às suas consequências.
  5. A aeronave tenha falha estrutural ou dano que:
  6. afete a resistência estrutural, o seu desempenho ou as suas características de voo; ou
  7. normalmente exija a realização de grande reparo ou a substituição do componente afetado.
  8. a aeronave seja considerada desaparecida ou esteja em local inacessível.

Incidente Aeronáutico Grave: Incidente aeronáutico envolvendo circunstâncias que indiquem que houve elevado risco de acidente relacionado à operação de uma aeronave que, no caso de aeronave tripulada, ocorre entre o momento em que uma pessoa nela embarca, com a intenção de realizar um voo, até o momento em que todas as pessoas tenham dela desembarcado. NOTA 1: A diferença entre o incidente grave e o acidente está apenas nas consequências.

Incidente Aeronáutico: Uma ocorrência aeronáutica, não classificada como um acidente, associada à operação de uma aeronave, que afete ou possa afetar a segurança da operação.

Fonte: Manual do Comando da Aeronáutica 3-6

Neste boletim, buscamos oferecer uma visão completa dos riscos envolvidos nas ocorrências aeronáuticas, no entanto, para uma análise mais aprofundada dos eventos mais críticos, é essencial focar especificamente nos acidentes aeronáuticos no período de 2015 a 2024 (gráficos 7 e 8), que representam os eventos mais catastróficos devido ao seu resultado com mortes, lesões graves e/ou perdas substanciais da aeronave.

Abaixo, apresentamos a relação considerando apenas o número de acidentes aeronáuticos, para uma análise mais objetiva da segurança operacional.

Quando a comparação foi realizada apenas com base no número de acidentes, a diferença entre as taxas de acidentes entre a Aviação Geral (RBAC 91) e o Táxi Aéreo (RBAC 135) mostrou-se muito mais significativa para todos os últimos dez anos, evidenciando uma disparidade acentuada na ocorrência de eventos catastróficos entre os dois segmentos.

Além da taxa de acidentes, os dados mostram que o número absoluto de acidentes no Táxi Aéreo é significativamente menor em comparação à Aviação Geral e ao número total de operações aéreas.

Esse resultado reforça a importância de um Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional ativo, requisitos regulatórios rígidos, treinamento contínuo das tripulações, maior controle operacional, fiscalizações e auditorias eficazes, os quais reforçam a importância da continuidade diuturna do gerenciamento de segurança operacional e do cumprimento das exigências regulatórias.

ANO 2024

A seguir, focaremos apenas no ano de 2024 para as operações com aviões e helicópteros – um período que registrou o maior número de ocorrências aeronáuticas anuais dos últimos dez anos. Esse aumento significativo chamou a atenção da mídia, que explorou amplamente o tema, destacando os eventos catastróficos e alimentando debates sobre a segurança de voo. Mas estaria havendo complacência em todos os setores aéreos? Os números trazem a resposta.

O número de ocorrências aeronáuticas em 2024 também é um fator relevante para análise. No total, foram registradas 2.257 ocorrências para todas as operações aéreas, enquanto a Aviação Geral (RBAC 91) contabilizou 197 registros, já no Táxi Aéreo (RBAC 135), houve apenas 85 ocorrências, representando 3,8% do total de ocorrências.

Dos três acidentes envolvendo Táxi Aéreo em 2024, dois ocorreram com aeronaves de asa rotativa (modelo R44) e um envolveu uma aeronave de asa fixa (modelo C206).

Observação: Analisando apenas a frota de aviões na operação de Táxi Aéreo, em 2024 ocorreu 1 acidente, 7 incidentes graves e 30 incidentes, sem registro de fatalidades.

ÚLTIMOS DEZ ANOS (2015 a 2024) – MODELO DA FROTA DE AVIÕES DA UPSTAR AVIATION

A seguir, será apresentado um panorama específico dos acidentes envolvendo aeronaves de asa fixa de modelos similares utilizados na frota de Táxi Aéreo da UPSTAR AVIATION, que incluem os modelos Beechcraft B350 (King Air), Embraer Phenom 100 (EMB500 – E50P), Gulfstream 450 (GIV-X GLF4), Gulfstream G150 e Learjet 45 (LJ40).

O critério de análise não foi restrito apenas à frota regida pelo RBAC 135, pois, neste estudo, é fundamental considerar todas as ocorrências envolvendo aeronaves, independentemente do tipo de operação.

Entre 2015 e 2024, foram registradas 2.168 ocorrências aeronáuticas (acidentes, incidentes graves e incidentes) das operações RBAC 91 e RBAC 135, conforme os gráficos 2 e 3 deste Boletim, no entanto, ao considerar apenas modelos similares aos operados pela UPSTAR AVIATION, o número de ocorrências cai significativamente, totalizando apenas 46 registros, sem nenhum evento com fatalidades, conforme ilustrado no gráfico acima.

O gráfico abaixo apresenta o número de ocorrências aeronáuticas por modelo de aeronave similares aos operados pela UPSTAR AVIATION.

Observação: Os 3 acidentes de excursão de pista envolveram aeronaves Phenom 100 (E50P).

Esse resultado também é reflexo da tecnologia de ponta e da alta performance das aeronaves operadas pela UPSTAR, que garantem segurança, eficiência e conforto de alto nível.

COMO ESTAMOS EM 2025?

Por fim, não como parte do estudo, mas apenas para apresentar ao leitor dados atualizados, seguem os números de ocorrências aeronáuticas apenas do ano de 2025, até a presente data (12 de fevereiro de 2025).

Todo o cenário apresentado sobre ocorrências aeronáuticas — abrangendo os últimos dez anos (2015 a 2024) e, em seguida, os anos de 2024 e 2025 analisados separadamente — levanta uma questão fundamental: Por que o Táxi Aéreo, regulamentado pelo RBAC 135, registra números significativamente menores em comparação com a Aviação Geral?

Essa diferença não está relacionada ao maior número de horas voadas, fator que já foi analisado e descartado como influenciador do resultado, da mesma forma, o volume de aeronaves cadastradas não é um parâmetro adequado para essa estatística, uma vez que o fator determinante é a quantidade de horas voadas, considerando uma métrica padronizada e equivalente.

Para garantir equivalência na pesquisa, a análise foi ajustada para considerar a taxa de ocorrências a cada 100.000 horas de voo, um padrão internacional que permite comparar de forma justa os dois segmentos, independentemente da diferença no volume total de operações.

NOTA 1: Nesta pesquisa não foram apresentados resultados de fatores contribuintes, fases do voo, localidade ou outras estatísticas de ocorrências aeronáuticas; tais circunstâncias poderão ser abordadas em um futuro boletim.

NOTA 2: Foram consultados outros canais de aviação que entregam à comunidade aeronáutica estatísticas de ocorrências aeronáuticas, tais como Flight Safety Foudation, International Civil Aviation OrganizationIntegrated Safety Trend Analysis and Reporting System (ISTARS), Bureau of Aircraft Accidents Archives (BAAA), no entanto, para este Boletim, os gráficos do CENIPA foram suficientes para apresentar um panorama geral de ocorrências aeronáuticas.

RBAC 91 (AVIAÇÃO GERAL) VERSUS RBAC 135 (TÁXI AÉREO):

A Aviação Geral, regida pelo RBAC 91, oferece flexibilidade e autonomia para os operadores, mas com requisitos regulatórios e operacionais reduzidos. Nesse tipo de operação, o piloto frequentemente assume sozinho uma grande variedade de responsabilidades, desde o planejamento do voo até a execução. Essa concentração de tarefas, aliada à falta de suporte estrutural, aumenta a exposição a erros, especialmente em situações adversas.

Cumprir os requisitos de segurança (voar seguro) é mais uma responsabilidade e uma doutrina individual do piloto e/ou do proprietário da aeronave do que uma simples imposição de órgãos auditores e reguladores, portanto, uma minoria não cumpre tais exigências de segurança porque, sem o controle direto dos Órgãos Reguladores, não há uma cobrança efetiva, deixando a responsabilidade muitas vezes negligenciada por parte do piloto ou do proprietário da aeronave.

Por outro lado, o RBAC 135, que regula o Táxi Aéreo, é comparável à Aviação Comercial Regular (RBAC 121) em termos de rigor e exigências. Empresas que operam sob o RBAC 135 contam com uma estrutura por trás de cada voo, formada por equipes especializadas, auditorias regulares e protocolos operacionais avançados. Essa combinação de fatores cria um ambiente mais seguro, reduzindo significativamente o risco de acidentes.

A segurança é uma engrenagem que envolve todos os departamentos, culminando na realização de voos seguros pelos pilotos. Cada área contribui de forma integrada para garantir que todos os aspectos operacionais, técnicos e regulatórios sejam cumpridos, resultando em uma operação segura e eficiente.

ADMINISTRAÇÃO DE AERONAVES RBAC 91 POR EMPRESAS ESPECIALIZADAS: UM AVANÇO PARCIAL:

É importante destacar que algumas aeronaves operando sob o RBAC 91 são administradas por empresas especializadas em Táxi Aéreo, como é o caso da UPSTAR AVIATION. Esse modelo de gestão oferece benefícios significativos, como manutenção criteriosa, planejamento detalhado e acesso a recursos tecnológicos, no entanto, o nível de segurança proporcionado pelo RBAC 135 vai mais além.

Apesar da gestão qualificada, as operações RBAC 91 continuam limitadas por regulamentos menos rigorosos, ausência de fiscalizações constantes, de um Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional (SGSO) e uma maior concentração de responsabilidades apenas no piloto, assim, enquanto a administração de aeronaves por empresas especializadas é um avanço importante, ela ainda não substitui a estrutura robusta e o modelo colaborativo do RBAC 135.

CONCLUSÃO

A análise dessas informações reforça que a estrutura e a regulamentação mais reforçadas do RBAC 135 contribuem diretamente para um ambiente de voo mais seguro; os números comprovam essa afirmação.

É fundamental deixar claro que pilotos e proprietários de aeronaves da Aviação Geral não desejam operar de forma insegura; a maioria segue os regulamentos e valoriza a segurança de voo, sem buscar deliberadamente atuar à margem das normas. No entanto, operadores regidos pelo RBAC 135 e grandes empresas com frota própria que operam sob o RBAC 91 desenvolveram, ao longo do tempo, uma cultura de segurança mais sólida e estruturada, visando identificar erros, falhas e situações de risco.

Além disso, essa evolução foi impulsionada por uma cultura justa, que foca na identificação e correção de erros, em vez de simplesmente buscar culpados. Esse ambiente promove um aprendizado contínuo, incentivando boas práticas e a prevenção de falhas, tornando a operação aérea mais segura para todos.

O RBAC 135 não se sobrepõe ao RBAC 91, nem indica superioridade ou inferioridade, tampouco sugere que a Aviação Geral seja insegura. Esta análise destacou as diferenças de requisitos entre os dois tipos de operação, acompanhadas de dados estatísticos sobre ocorrências aeronáuticas. Como recomendação, é fundamental identificar as origens das condições latentes que contribuíram para o elevado número de ocorrências aeronáuticas na Aviação Geral nos últimos dez anos, além disso, é imprescindível fortalecer a cultura de segurança de voo em todos os níveis — entre Órgãos Reguladores, proprietários, mantenedores, operadores e tripulantes — visando reduzir o número de acidentes aéreos, independentemente do segmento da aviação.

A segurança de voo é um compromisso contínuo que exige esforço coletivo, por parte dos proprietários, pilotos, departamentos operacionais, de manutenção e de segurança de voo. Cada setor tem um papel fundamental e precisa trabalhar em sintonia para garantir que os altos padrões do RBAC 135 sejam mantidos e as operações ocorram de forma segura, eficiente e alinhada aos mais rigorosos regulamentos.

É essencial evitar a complacência. O fato de registrarmos menos acidentes no Táxi Aéreo não deve ser motivo para relaxarmos em nossas responsabilidades; portanto, precisamos manter o foco no treinamento, na análise de riscos, na comunicação aberta e na melhoria constante dos processos, somente assim poderemos continuar entregando voos seguros e confiáveis.

As normas, tanto RBAC 91 quanto RBAC 135, estabelecem requisitos mínimos de segurança para cada tipo de operação, garantindo padrões essenciais para a prevenção de acidentes, no entanto, além do cumprimento das exigências regulamentares, a cultura de segurança é fundamental: Relatar ocorrências, promover treinamentos contínuos, analisar riscos e aprender com experiências passadas fortalece a segurança operacional.

Mais do que seguir normas, é a adoção de boas práticas e o compromisso com a segurança que reduzem ocorrências e preservam vidas. A excelência operacional é alcançada quando o cumprimento de requisitos e a cultura de segurança caminham lado a lado.

Nosso objetivo não pode ser outro: o melhor número para UPSTAR AVIATION e para toda indústria aeronáutica será sempre “zero acidentes”. Trabalhar incansavelmente para alcançar e sustentar esse número é a maior demonstração de respeito à vida e ao compromisso com a segurança operacional, afinal, segurança não é apenas um valor – é a base de tudo o que fazemos.

Quando você escolhe voar com a empresa de Táxi Aéreo UPSTAR AVIATION, regulada pelo RBAC 135, está optando por um tipo de operação aérea que prioriza a segurança em todos os níveis. Desde o planejamento inicial até o pouso, cada etapa é respaldada por profissionais dedicados e protocolos rigorosos, que garantem uma experiência de voo confiável e tranquila.

A padronização e o profissionalismo dos pilotos, quanto à dedicação às normas e ao treinamento de reciclagem (refresh), sempre que necessário, aliados ao trabalho dos Órgãos Reguladores na recomendação de práticas seguras, são fundamentais para garantir a segurança operacional.

Portanto, a segurança de voo não é fruto do acaso, mas o resultado de um esforço coletivo contínuo ao longo dos anos, que envolve tecnologia, treinamento, regulamentação e uma cultura organizacional voltada para a segurança. Esse compromisso envolve proprietários de aeronaves, departamentos Comercial, Operacional, Safety e Manutenção, além dos próprios tripulantes. Por isso, optar por voar com um Táxi Aéreo é uma escolha que oferece ao cliente maior tranquilidade, colocando sua segurança como prioridade.

Voe Seguro!

São Paulo, 20 de março de 2025.

(Dados atualizados até 12/fev/2025).

Judá Messias Oliveira da Rocha

Judá é o GSO da UpStar Aviation, e possui ampla experiência em Segurança de Voo.

Compartilhe:

Categorias:

Redes Sociais

Posts Relacionados