O imaginário das pessoas vai longe quando falamos da nossa profissão. É sempre uma chuva de perguntas, das mais diversas. Se a gente não tem medo, se não é perigoso, se é difícil, se a gente faz voo internacional… E sinceramente, são perguntas honestas que sempre temos o maior prazer em responder.
Mas se tem uma pergunta, cuja resposta é carregada de informação e vai muito além da simples percepção de que voar é seguro (só porque as pessoas falam que é), a pergunta seria: “Mas e se o avião tiver uma pane?”
E para essa pergunta a gente precisa de algumas pequenas respostas que juntas trazem a compreensão de que, voar, sim, é muito seguro.
A palavra redundância é comumente ouvida na aviação. Isso porque, os aviões são equipados com sistemas e mecanismos que apesar de interdependentes, também funcionam de forma autônoma, sendo capazes inclusive de se isolarem da fonte do problema, suprindo as necessidades do sistema que falhou.
Dessa forma mesmo que, por exemplo, um motor pare de funcionar, existem procedimentos para que o outro permita o pouso em segurança.
Cumprindo uma série de requisitos que variam entre tempo de utilização ou quantidade de utilização, os aviões passam por diversos testes e manutenções, garantindo que seus componentes estejam íntegros. Uma peça do avião que tenha atingido sua vida útil estabelecida pelo fabricante é trocada independente do seu estado, mesmo que pareça “nova”, mitigando assim uma pane naquele componente.
De forma análoga os pilotos também passam por “manutenção”. Anualmente nós somos extensivamente testados em simuladores de voo, que são uma cópia fiel da cabine de comando do avião. Esses simuladores contam com movimento, e uma infinita possibilidade de provocar adversidades nos sistemas do avião e de mudanças climatológicas. Desta forma, nos preparamos para eventualidades que possam acontecer num voo real, sem sermos pegos de surpresa por uma possível pane desconhecida.
Uma das panes mais treinadas em simulador é a perda de motor durante a decolagem. Uma situação bastante delicada, já que o avião pode estar numa velocidade em que não seja mais possível parar com segurança sobre a pista. Os aviões são construídos de forma a serem capazes de completar a decolagem nessa condição, e os pilotos são treinados para administrar esse cenário.
Dá até para imaginar que num evento como esses a cabine seja tomada por gritaria e confusão com os dois pilotos tentando salvar o avião, quando, na verdade, Comandante e Copiloto sabem exatamente o que, como e quando fazer. Cada qual na sua posição, executando os procedimentos descritos de forma tranquila, claramente verbalizada e sempre certificando que ambos estejam em sintonia de ações. Dentro da cabine de comando, a gente não inventa nada. Tudo é feito de acordo com os manuais do avião, exaustivamente estudados.
Quer saber um segredo? É bem possível que você já esteve a bordo de um avião que sofreu uma pane e você nem ficou sabendo. Nem todo mau funcionamento de alguma coisa no avião resulta em retorno imediato ou em um pouso forçado. A maioria massiva dos problemas é gerenciável e prevista no manual de voo, e por conta da redundância e dos procedimentos, é possível seguir com o voo de forma tranquila, sem sequer incomodar os passageiros, tamanha é a confiabilidade dos aviões.
Se você gosta de números, a chance de uma pane chegar ao ponto de virar um acidente de grandes proporções é tão pequena que seria preciso que você voasse uma vez por dia, todos os dias, por 2.739 anos para que você seja incluído na estatística de ter estado num acidente aéreo.
Por isso; sente-se; relaxe, curta seu voo, pois nosso time é altamente treinado e nossos aviões minunciosamente cuidados, para que seu voo seja prazeroso e seguro!